segunda-feira, outubro 31, 2005

Amanhece em Porto Alegre. A insônia queima meus olhos de fera enjaulada. Rolo entre os lençóis, percorro-me, afasto-me da música irritante do adeus não dito, do som da covardia que cala verdades que não pronuncio. O pescoço dói, a boca entreabre, a respiração acelera. Na imaginação de um orgasmo, um origami-esboço-de-anjo voa alto, rápido, rápido, e faz imagens de teu corpo escorrer da memória. A dor da ausência me surpreende com os dedos em movimento, reabro cicatrizes impossíveis de disfarçar, tropeço na noite que me tortura. Com o gosto de teu gozo na boca, encolho-me num canto da cama e estremeço ao som de velhas canções.

domingo, outubro 30, 2005

Este delírio que quebra silêncios e amortece dores, afasta os abutres que se aproximam do anjo de asas tortas que pouco a pouco desaba. Salpica o chão de rosas vermelhas, traz a vertigem de óleos, mel e perfumes sensuais, empapa de suor a oscilante silhueta que se arrasta na solidão. Da mistura de tudo o que a mão alcança, do bruxuleio da alma que liberta, das veias que abre em passagens de mundos íntimos, emerge feito o frescor de uma madrugada de primavera.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Adormeci azul escuridão.
Um nome rabiscado (inexplicável fascínio de paixão obsessiva), um amargo na boca: vomitei retratos e objetos esquecidos nos baús da memória, sombras que moldaram e reconstituiram as linhas do teu rosto.Cheirando a amor e morte, um anjo espargiu cravos e rosas com o seu gozo.
Acordei horizonte em chamas.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ontem não passamos de um beijo e um pouco de carinho entre palavras e insinuações maliciosas. Bebi demais, delirei no amolecimento de tua mão invadindo-me sem nada perguntar. O assunto era política e corrupção e foi então que senti tua língua. A tua língua que me revirou, me penetrou, me fez suspirar, trouxe-me uma solitária inundação de ti.