segunda-feira, setembro 25, 2006

De repente, o espanto.
Nada havia do cafajeste que se insinuou, não consegui ser a vagabunda que me gabava de ser. Teus olhos brilhantes, profundos, querendo respostas. E eu sem palavras em meu círculo vicioso de destruição.
Simples foi me despir e me deixar amar. Difícil foi observar tua face confiante que junto com a cidade adormeceu. Insuportável foi a sensação de querer ficar, quebrar promessas, acreditar de novo, sonhar.
Fugi como uma ladra, serpente rastejante, batendo os guizos na retirada. Demolida. Precisando da distância para te olhar com a razão.

Algum tempo ainda passará antes que percebas o que sou: galho seco, folha amarelecida caída no chão, outonal.

sábado, setembro 23, 2006

És. Masculino cortante. Encantamento dolorido. Dor e êxtase que estraçalha e esparrama minhas vísceras. Inquietante devassidão que me mantém ferida exposta, inumana e atemporal. Sem tuas marcas.

Sou. Amante despudorada. Incestuosa que profana teus terrenos sagrados. Prazer clandestino que com respiração afiada, ressoa suspiros e te abocanha, mastiga e tritura. Destruidora da ordem estabelecida. Que não deixa rastros.

Retalhados e costurados, indestrutíveis e estraçalhados, no gozo possível sussurramos silenciosos nossos nomes.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Entre dejetos humanos, o coração arde esfomeado.
Corpo corroído pela desesperança, mergulho em falsos gozos, transpiro escárnio e solidão.A mente, entorpecida por preces, clama a um deus que não existe. Levita, bêbada de dor.
Nos olhos febris, lampejos de loucura quebram os encantamentos do amanhecer, tatuam poentes na boneca de trapos que o feriado surpreende no limiar do delírio, lúcida e vazia de mim.

terça-feira, setembro 19, 2006

Quando o Tudo é Nada, a fumaça pesa no ar, as paredes oscilam, o mundo explode em mil pedaços. Na vastidão das sombras que preenchem de abismos os labirintos do espírito, nossos pensamentos fragmentados se cruzam em tecedura de silêncios.
Aprisionados neste quarto e a mil anos-luz distantes um do outro, fantasmas transtornados e em mutação perpétua, regurgitamos o fel das mágoas que ao longo do tempo calamos.
Covardes na despedida, dizemos até logo sabendo que é adeus.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Sou uma caricatura de mulher.
Nas madrugadas, enfeitada de estrelas, na cara dos deuses gargalho insolente, deslizo por arco-íris adocicados. Criança grande, na mais crua insensatez danço ao som de músicas pervertidas, perco a cabeça na esperança de que estes instantes durem para sempre.
Ao amanhecer, o caleidoscópio mágico da vida surpreende-me esboço de feminilidade, frágil marionete explodindo turbilhões de lágrimas, carência e desamor.

domingo, setembro 10, 2006

Violentando o corpo inchado, mastigo a vida, empurro-a boca a baixo. Furor empinado em saltos altos, deslizo em sulcos ondulados de dor. A solidão transborda das gavetas, o vazio amarra-me ao pé da cama, adornam-me pulseiras geladas de frio.
Confidência despudorada dos suspiros com segundas intenções, o sorriso escancarado de menina desdentada que convida é bricolagem sem virtude querendo se descobrir no sexo, buscando uma réstia de sol no intestino da madrugada.
Nos indisfarçáveis desejos de paixões de uma só noite, em braços estranhos busco o andarilho que lamberá minha loucura, o infame que me insultará arrancando-me gozo e devassidão, o navio fantasma, naco de carne rígida que preencherá meu cais desabitado.
Nas esperas angustiadas, no absurdo quebrado por sussurros, sou égua suada, entesada, cavouco segredos, degusto humores, recebo na boca espantos de perdição infinita e de plenitude de outros seres.

Farol refulgindo na tempestade, relâmpago dentro da noite escura, puta indigente, sobrevivo envolta em amores de folhetim.

domingo, setembro 03, 2006

Porto Alegre, noite sem ternura: o minuano assobia enraivecido, gemidos quebram o silêncio.
Maldita até as entranhas, alma ardendo na crueza insaciável dos desejos, segredos expostos à perversão e aos vícios que escorrem na pele enlanguescida, perco-me, miríade de estrelas em explosão. No limite do abandono, no mais profundo saber-me viva, com as veias entupidas de insensatez, saboreio o gozo na dor.
Os monstros da manhã surpreendem-me encolhida nos cantos do inferno. No porão dos sonhos, amaldiçôo deuses, acolho anjos mambembes, sou só frangalhos.
À indiferença do alvorecer que me devora, lanço-me, monturo de músculos e ossos em nó cego atados, delírio que não se basta, esboço em constante contradição.