terça-feira, outubro 10, 2006

(para o espantalho)

Uma menina pula corda sob o aguaceiro, um menino brinca com soldadinhos de chumbo. Almas laceradas, juntos sangram delícias na pulsão de desafiar a morte, enroscam-se na dor que deles escorre e encharca a cama. Deuses, indivisíveis, etéreos, insones e insanos, desvendam o mistério que faz o sussurro da alma germinar delírios, deslizam seus escombros por paisagens comuns de melancolia e abandono.
Na madrugada, na imaginação, por pura prestidigitação, compartilham segredos, inventam o impossível.
Depois se afastam. Buscam outro corpo, outro olhar, outra despedida. Nada deixam. Nada levam. Aprendem a caminhar na solidão.

domingo, outubro 08, 2006

Um cigarro largado na mesa, restos de cerveja amanhecida, o som do piano no andar de cima, roupas amontoadas no chão, sandálias na cabeceira da cama, óculos e relógio perdidos na confusão: o caos te visitou.
Não zanga se cedo parti: sou solidão, mulher que renasce em cada orgasmo, esboço livre e em construção.

terça-feira, outubro 03, 2006

A inclinação dos corpos atentos à melodia desafinada das memórias, as bocas amargas de vinhos e salivas em delírio, os sussurros em meio ao toque das línguas úmidas, o tremor dos pêlos eriçados de tesão: tempestade de angústia, vento que convida ao prazer, fetiche que vicia.

Arfantes no oceano de sensações secretas ondulando em masturbações e desejos, no sexo desinibido pelas mãos excitadas enchemos o vazio com velhas mentiras de felicidade: teu nome arranha meus gemidos, és cachorro vira-lata lambendo meu cio.