quinta-feira, junho 28, 2007

Perambulo na noite dos deuses ausentes, olhos injetados de turbilhões. Às avessas, tropeço em exus tardios, anjos cabisbaixos cativos na realidade cruel. Ecos de fantasmas embrutecidos pelo descaso, nos corpos opacos de fome regurgitam vida e desvario.

Vagueio na madrugada dos deuses bufos. A cada reverso, um flutuante reflexo numa vitrine luxuosa grita o que sou: mancha parda indelével e perplexa, paralelepípedo disforme e não lapidado. Inútil tecedura de alma que não cicatriza.

domingo, junho 24, 2007

Vôo solo.
Aprendi o que é ser um rio, um fino veio a escorrer desesperadamente sem saber se um dia vai encontrar o mar. Esbofeteada pelo vento da solidão, em águas profundas e lamacentas, acostumei-me a sangrar vida à espera de nada, mergulhada nos sentidos até a exaustão. Entre mudas despedidas, voltas desesperançadas e inúmeros momentos delicados e dissimulados, desatinada e à deriva, filtro memórias que me assombram, aguardo o que não pode ser dado, o que nunca virá.

segunda-feira, junho 18, 2007

Fecha os olhos e sente.
Percebes o que posso ser sem que seja preciso me ver?
A casca da fruta é o que se põe fora. E por baixo dela é que está o verdadeiro sabor.
Acre-doce.
Melhor do que se anuncia.

terça-feira, junho 12, 2007

ensinas-me em ti,
conduzo-te em mim.
na corda bamba e no desequilíbrio,
no domínio e no descontrole,
na falta de juízo,
acontecemos.

terça-feira, junho 05, 2007

Convite.
Na noite medonha aguardo o oceano furioso de marés turbulentas que és. O amanhecer é duvidoso e o que perto de ti agora ressoa, são somente enganos e intermitentes promessas de prazer. Quando a madrugada fica tenebrosa, será em minhas enseadas que as vagas violentas vais querer serenar.
Aqui onde sou solitária mulher do Trovão, misturo fogos e raios, ventos e tempestades, com o corpo a transbordar de ternura por ti.
Então, anda logo!
Vem!

sábado, junho 02, 2007

Abandonei-me ao cinza no cotidiano dos braços doloridos e das veias dilaceradas. Nos cabelos molhados, nos pés gelados e entorpecidos, no cheiro de remédio incrustado na pele, aqui e ali, o roxo é a cor que resplandece. A mente febril destila angústias cruas numa mistura de vertigem obtusa e queda em espiral.
O esmigalhado coração, descrente e vazio, sangra. Paga com ágio, dívidas que parecem eternas.