segunda-feira, julho 30, 2007

Porto Alegre, 4º C.
O amargo do cabernet adocicado pelas salivas misturadas de chocolate e tabaco. As línguas tesas engalfinhadas. Os corpos nus inclinados na dança que na memória persiste: fetiche que vicia.
A natureza se revela: tempestades de angústia, ventos de prazer, redemoinhos de demônios invisíveis. Das gavetas das sensações secretas, ondas de masturbações e vagas de sexo liberto espalham-se num oceano de palmadas sorrateiras e sutis. Rompe-se o dique das emoções. Sucumbimos.
Porto Alegre, 4 horas da manhã.
A geada se espalha na madrugada preenchida com arremedos de felicidade.

domingo, julho 29, 2007

Velo teu sono entre paredes que refletem a felicidade efêmera vivida nas poucas horas roubadas. Neste quarto de hotel, nada do que escrevo faz algum sentido. Uma bagana largada na mesa, restos de vinho amanhecido, o som distante de uma milonga, um celular que não pára de tocar, casacos jogados no chão, mantas e luvas na cabeceira da cama, brincos esquecidos no banheiro. Parece que uma guerra aqui se iniciou. Espio a cara redonda da lua que ilumina a aurora incipiente. Sinto frio. Preciso de carinho. Brigo com o que de ti em mim persiste, insiste. Como impedir a comunhão entre nós se nos espelhamos, fogo e ar, alimento e combustão?

quinta-feira, julho 26, 2007

No cotidiano que desliza, a covardia engessa as palavras e verdades não fluem.
Arrasto-me no universo que não se realiza.
O desejo revira o pescoço, a boca entreabre, a respiração acelera. Não estás aqui. O gosto de outro gozo reabre cicatrizes na impossibilidade de disfarçar o desencanto.
Presença constante em minha loucura, um anjo com teu rosto, voa alto, rápido, rápido rumo a luz que me cega e faz desfalecer.

terça-feira, julho 24, 2007

Cotidiano
O obscuro,
Na neblina do desencanto
Das epifanias da solidão
Sangra em silêncio.
Intenso,
Das galáxias das alucinações
No leito da esquizofrenia
Deságua em poesia.

domingo, julho 08, 2007

Quando quiseres, retorna livre brisa que me arrepia.
Sabes que cada milímetro de meu corpo, grita teu nome, treme e estremece. Sabes onde sou rasa e onde sou profunda. Que basta um toque teu para relembrar e o desejo surgir, inexorável incêndio que se alastra pela pele, pico ambicionado que circula veloz em minhas veias.

Quando quiseres, volta vento brincalhão e devasso.
Vasculha cantos, revela demônios e sensações, renova inquietudes com respostas absurdas. Sabes o momento exato em que minha alma, de mãos dadas com tua loucura, se transforma e afunda na voracidade dos instintos profanos e errantes.

Quando quiseres, vem esgotar minha lucidez.

domingo, julho 01, 2007

No domingo gelado, percorro o Parque e suas feiras, saudosa de coisas e pessoas que não conheço. Por onde passo atropelo fantasmas enfeitados de incertezas, repriso velhos círculos de silêncio e solidão, revejo o que um dia me afastou daqui.

Na Cafeteria, desvio dos medos estrangeiros que, nesta cidade infernal, dão origem à violência na periferia e às caçadas por ruas fingidamente protegidas. “Não tem lugar! Não tem lugar”, o Chapeleiro de plantão grita. Impura e demente, procuro nos rostos de gesso dos que me desprezam, o sentido para tanta superioridade e prepotência.

Vago. Vadio. A mente atormentada busca um destino incerto para este teimoso vôo por calçadas onde é proibido levitar.

Atravesso avenidas, desobedeço sinais, desabo na antiga Lancheria onde o gosto de vida esperada, de rebeldias abafadas, de ausência de fogos e arco-íris, incomoda e angustia. Nela até o café expresso tem sabor de “falta muito mais”. Antes que a Rainha Louca diga “Cortem-lhe a cabeça”, busco o caminho da volta.

Esquivo-me pela infinidade de ruas laterais açoitada por um vento de excessos que ressoa músicas esquecidas, reverbera lembranças de sonhos outrora abandonados em bricolagem de desencantos.

Neste início de noite em Porto Alegre, inexpressiva imagem esmaecida, sou Ninguém.