segunda-feira, agosto 28, 2006

Dos bilhetes, do carinho, dos beijos e abraços guardo tua quase presença como um gosto de sorvete e algodão-doce.
Descalça, cabelos desgrenhados, olheiras fundas, perdida nos abismos do nada que me cerca, volto às noites das línguas enluaradas que abriam espaços reluzentes no céu de nossas bocas. Faz-me esquecer o suicídio lento que é esse aguardar na ante-sala da vida onde só me resta buscar nos escaninhos da memória, pílulas para dormir.
Aqui não combino com nada. Ninguém espera que a menina que finge ser gente grande chore, demonstre tristeza.
E com a vontade de uma desculpa lá vou eu: flores pintadas na ponta dos dedos, sussurros de estrelas e sorrisos de primavera sem encontrar quem me abrigue. Fecho os olhos, abro portas lacradas, arrasto-me por longos corredores, viro cambalhotas pelas paredes, invado quartos escuros e salas proibidas. Procuro o jardim dissimulado no fundo da minha alma, o lugar onde sopram ventos de ternura perdida na infância e onde as chuvas são beijos roubados em noites aquecidas na pele de alguém.
Hoje em dia sou só disfarces. Prefiro calar no íntimo tudo que dói. Enlouqueço de tempos em tempos, sonho com quem não devo, vivo o que é irreal.