terça-feira, agosto 14, 2007

Na noite cega, a alma em farrapos expõe retalhos entrelaçados de fumaça ardida e veneno no sangue. Mescla fragilidade, lucidez e loucura. No desassossego em tons de vermelho, empalidece a onça domesticada feita de lama e sopro. Incolor. Sustenta a vertigem indo e vindo atônita sobre as ondas em moto-perpétuo. Vasta e infinita epilepsia emerge dos medos dissolvidos em álcool. Onde o perigo flutua, goteja a dor maior, reverbera fragmentos de mentiras e trapaças. “Solamente una vez Y nada mas” é o mote na madrugada. Extremos se tocam nos limites das fronteiras circulares. Esfaimado até os ossos, o quebra-cabeça desfeito vaza cacos de ternura e carinho dentro do grotesco vazio.

domingo, agosto 05, 2007

Ah, meu querido, violento e carinhoso, vem!
Morde meus lábios, me suga e me lambe toda. Entre palmadas estaladas, me xinga, grita palavras chulas que eu desconheça.
Manda! Manda que eu, desavergonhada, faço!
Rameira, puta, nua, escabelada, de joelhos, de costas, de quatro. Insana, entre tabefes e orgasmos, beijos e ganidos, suspiros e gemidos, morro queimando na tua fogueira.
Anjo decaído, lagarto fugaz, bêbado de razão e chapado de insensatez, nesta madrugada gelada em minha cama vem te acabar!

sábado, agosto 04, 2007

O cinza-chumbo da madrugada, lento punhal perfurando a carne, me invade, desnuda fracassos de ilusões descontroladas.
Um vento austral e desassossegado mimetiza o som feroz da agonia, o uivo do abandono, o silêncio da saudade que escoa pelos interstícios de meu corpo.
Distante, perambulo na noite de ruas desertas, no ponto extremo do risco, à margem do abismo onde pululam interrogações. Ansiedades comungadas atropelam, buscam uma saída, improvisam fugas em todas as direções.
Num desequilíbrio constante, ameaçada pela dissolução no caos, no mais próximo do absoluto absurdo, sem o toque que tudo redime, definho.