domingo, novembro 06, 2005

É domingo. Aeroporto lotado, vôos atrasados e te encontro num Cybercafé. Nos olhos circundados de olheiras refletes a placidez da lua. Teu desejo me encosta à parede, se encaixa entre minhas coxas, faz vazar a loucura que brota de minhas entranhas e de onde não consegui te abortar. Tremendo pela fome de viver com migalhas que entremeiam tuas ausências, acompanho o desenhar nas paredes dos contornos de nossos corpos que, transformados em outros corpos, com gestos de desespero se procuram. A impossibilidade do encontro massacra e enraivece, joga por terra a visão de nossa nudez amanhecendo coberta pela suavidade de um lençol sem fim.
É domingo. A chuva cessa , os aviões pousam, atendo ao chamado para o embarque. Viajo em outros braços, bocas e mãos e neles deposito o enorme cansaço de não te ter por perto.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Com carinhos enfurecidos te procuro. Hoje (ontem e quem sabe amanhã novamente) em bares perdidos na imensidão da cidade, arranco de outros os gritos que pensava só tu pudesses dar. Ao amanhecer, na rotina das janelas empoeiradas, invade-me o frio, vasto frio das madrugadas plenas de tua ausência. Tantos olhos, tantas bocas, tantas mãos e em nenhuma encontro ternura de asas tocando-me a pele, nem sussurros antecipando-me tua presença e adiando minha morte.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Duas horas da manhã. Emudeço.
Longe do encontro com teu corpo, fogo-fátuo que doa cor à minha solidão, busco redenção e me envolvo em carências, grito por um toque e colam as mãos em mim.
Duas horas da manhã. Estremeço.
O brilho da indiferença tatua em minha pele teu cheiro e a estupidez da minha saudade.
Duas horas da manhã. Enlouqueço.
Febril antífona, inefável relâmpago de memória. O bater de asas do anjo que agora me devora o sexo desaba tempestades dentro de mim.

terça-feira, novembro 01, 2005

Entre edifícios e casas abandonadas, por ruas silenciosas e esburacadas, no apagar das noites de néon e fumaça, picho versos insanos, redesenho o retrato falado do Amor.
Com o coração arranhado e faminto, tropeço em pedras (lembranças de tormentos), lugares (tristezas que não passam), caminhos (pedaços da vida esfacelada).